Introdução
Neste artigo veremos como não se sentir culpado por tudo através da justificação pela fé. Quando falamos de aconselhamento não há como não tocarmos em algum aspecto da justificação, visto que ela é peça central na narrativa do evangelho. Se somos cristocêntricos e evangelísticos no aconselhamento, nós ministramos, dentre outras verdades, a verdade da justificação pela fé. Principalmente se o aconselhado precisa de ajuda para lidar com sentimentos de culpa excessivos.
Aqueles que conheceram Cristo e estão avançando na caminhada cristã, precisam mais cedo ou mais tarde entender a doutrina da justificação pela fé. Teólogos durante a história da igreja já discorreram e sistematizaram exaustivamente os conceitos e impactos desta doutrina. E alguns a colocam como o pilar central pelo qual igreja cai ou permanece de pé.
Digo por experiência própria. Apesar de nascer e de ter sido criado em um lar cristão, só entendi plenamente a obra de Cristo na cruz e o que ela representava para mim, com 24 anos de idade. E foi principalmente a doutrina da justificação pela fé que abriu os meus olhos para a graça de Deus. Foi ela que retirou dos meus ombros a culpa e remorso que sentia pelos meus pecados e o medo que me cercava de perder a minha salvação.
Definição de Justificação
Para entender a justificação precisamos primeiro considerar que o pecado tem dois aspectos quanto ao seu impacto no ser humano, um interno e um externo. A justificação está relacionada ao aspecto do problema externo que é: Como nós pecadores culpados podemos ser considerados justos diante de Deus?
As próprias Escrituras declaram em provérbios 24:24 “Quem disser ao ímpio: “Você é justo”, será amaldiçoado pelos povos e sofrerá a indignação das nações.”. Ainda em provérbios no capítulo 17 versículo 15 diz: “Absolver o ímpio e condenar o justo são coisas que o Senhor odeia.”
Pois bem, a resposta correta para este dilema é a doutrina da justificação pela fé que segundo Wayne Grudem podemos defini-la da seguinte maneira:
Justificação é um ato instantâneo e legal da parte de Deus pelo qual Ele considera os nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo como pertencente a nós e declara-nos justos à vista dele.
Wayne Grudem
Eu, particularmente, uso uma versão resumida desta definição: Justificação significa ser declarado justo.
Exemplos
Fica mais fácil entendermos essa declaração de justiça quando a comparamos com a condenação. Paulo diz em Romanos 8.33-34a: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará?”. “Condenar” alguém é declarar tal pessoa culpada. Então o oposto da condenação é a justificação, que, nesse contexto, tem de significar “declarar alguém justo” não necessariamente inocente. Deus não nos declara inocentes, nós continuamos sendo culpados pelos nossos pecados, nós apenas somos declarados justos. Ou seja, não há condenação que caia sobre nós. Assim como Paulo diz no próprio capítulo 8 no versículo 1: “Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus”.
É importante enfatizar que essa declaração legal por si só não transforma nossa natureza interior ou caráter. Nesse sentido de “justificar”, Deus emite uma declaração legal sobre nós. E por isso que os teólogos também têm dito que a justificação é forense. Visto que a palavra forense significa “relacionada com processo legal ou jurídico”.
Voltando à nossa questão do início, como podemos ser considerados justos diante de Deus? Ou ainda como o próprio Deus pode continuar sendo justo sem condenar pecadores declarados? Só existe uma resposta satisfatória para essas perguntas, alguém tem que pagar pelos pecados cometidos. Seja o próprio pecador pagando pelos seus próprios pecados sendo condenado eternamente ao inferno ou esse pagamento tem de ser feito de outra forma por outra pessoa.
E para nós cristãos é exatamente isso que aconteceu, Jesus Cristo pagou. Foi Ele quem quitou a nossa dívida diante de Deus por causa dos nossos pecados. 1 Pedro 2:24 diz: “Ele mesmo levou em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que morrêssemos para os pecados e vivêssemos para a justiça; por suas feridas vocês foram curados.” Pedro faz referência ao capítulo 53 de Isaías que fala do Servo Sofredor.
Isaías desenvolve um pouco mais esse conceito dizendo no versículo 5: “Mas ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.” Foi por causa do castigo que Ele sofreu é que nós temos paz, os nossos pecados foram imputados em Cristo e a sua Justiça foi imputada em nós. Cristo recebe o que era nosso e nós recebemos o que era dele.
A Justificação é algo tremendo se entendida corretamente e pode mudar a vida prática de muitos cristãos que lidam com alguns desafios diante de Deus. Então vamos ver algumas formas de como a justificação nos ajuda a sermos mais parecidos com Cristo. Além disso, como ela também nos mune de verdades essenciais para aconselharmos uns aos outros, principalmente quando o assunto é culpa.
Significado de Culpa
O termo “culpa” que usaremos aqui não é simplesmente um sentimento de remorso por algo ruim praticado. Até certo ponto este sentimento de lamento profundo não é ruim em si mesmo, desde que não fique apenas como remorso, mas que gere verdadeiro arrependimento. Então qual é o sentido proposto como culpa sendo um problema a ser tratado no aconselhamento? A culpa começa a ser um problema quando ela é baseada na crença de que nós somos a solução para alguma coisa e não o próprio Cristo.
Num tempo onde a performance é cultuada nos ambientes corporativos e competitivos e idolatrada nas redes sociais por exemplo, nós somos tentados a pensar que precisamos sempre fazer mais ou ser mais produtivo, ser mais saudável e até ser mais espiritual. E aqui vale ressaltar dois pontos:
Primeiro, às vezes os aconselhados precisam se sentir culpados pois realmente estão pecando em ser relapsos, improdutivos, imprudentes com a saúde ou de fato negligenciando uma vida devocional saudável que conduz à maturidade espiritual. Se este é o caso no aconselhamento, precisamos levar o aconselhado ao arrependimento.
Segundo, nenhuma dessas coisas é pecado ou ruim em si mesmas. Deus nos chama a sermos produtivos, cuidar bem da saúde e principalmente sermos espirituais, ou numa linguagem bíblica, sermos “santos como Ele é Santo”. O real problema aqui é a tentação de aceitar este discurso humanista de que NÓS somos capazes de qualquer coisa e que pela nossa própria força alcançaremos os melhores resultados, e aí quando isso não acontece nos sentimos culpados porque não atendemos a expectativa que tínhamos ou até a que pensamos que Deus tinha,
essa é uma das culpas que precisamos tratar no aconselhamento e que é remediada pela justificação.
Impactos da Justificação no Aconselhamento
Quando entendemos que não há nada de bom em nós, nada que seja louvável e que nós tínhamos a maior culpa de todas, que era a justa culpa pelos nossos pecados, mas que Cristo recebeu essa culpa em nosso lugar e que em Cristo o jugo é suave e o fardo é leve, nós somos libertos de qualquer culpa e somos chamados a viver uma vida de gratidão a Deus.
E a partir daí tudo que fazemos de bom é por graça e misericórdia de Deus, que através do seu Santo Espírito que habita em nós, nos capacita a fazermos as boas obras preparadas por ele desde antes da fundação do mundo.
Quando ministramos aos nossos aconselhados que foi por causa da justiça imputada a nós pelo sacrifício de Cristo, que recebemos graciosamente a salvação, que foi pela obra e esforço de Cristo, e não pelos nossos méritos que somos salvos, somos compelidos a encarar as coisas de forma diferente e a não mais devotar nossa vida à uma “performance” mas sim devotar nossa vida a Deus.
Conclusão
Portanto, a justificação é o antídoto da culpa, visto que a única forma de resolver o problema externo do pecado em nós e satisfazer a justiça de Deus, era o próprio Deus entregar o seu Filho como sacrifício perfeito para morrer em nosso lugar, para levar os nossos pecados e nós recebermos a sua justiça.
Assim somos libertos da culpa do pecado e de qualquer culpa que sentimos quando falhamos em algo e por acharmos que conseguimos fazer as coisas pela força do nosso próprio braço. Em Cristo nós já temos tudo que precisamos.
Se quiser saber mais sobre a justificação pela fé escute este episódio e se quiser saber sobre como as doutrinas da Graça impactam nossos processos de aconselhamento escute os outros episódios disponíveis no Tomando Juízo Podcast. Siga-nos também no Instagram @conselheirosbiblicos.
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